Nesse mês, duas capas me chamaram a atenção. Ambas por suas fotografias, visto que seu design não sobrevive a uma análise mais longa. Falemos da primeira.
Sou fã de Chico Buarque desde adolescente, apesar de meu gosto musical estar forrado essencialmente por rock e metal. Sinto orgulho de contar que fui a um show da turnê do álbum Carioca, em 2006, de bandana na cabeça e vestido numa camiseta da banda progressiva sueca Pain of Salvation. Sou fã, mesmo! Dias atrás, estacionei em frente a banca, saí do carro e, encarando meu caminho, estavam o Chico numa excelente fotografia e as palavras “disco novo”: comprei a revista, curioso!
Nunca havia lido uma Revista Alfa antes. Sabia de seu lançamento, mas não havia me interessado por conferí-la até essa edição. Mantendo-me do lado de fora da revista e do meu gosto musical, falemos da foto, da capa. A luz vinda pela direita revela a idade do retratado e confere-lhe um ar de dignidade, de respeito muito forte. A imagem se equilibra muito bem sobre seus terços. O nariz, enorme, marcado pela textura dos anos, repousa sobre o primeiro terço vertical, enquanto o pescoço gira no eixo do segundo. As sobrancelhas pesadas estão logo acima do terço horizontal superior. Para chamar mais atenção do que isso, apenas se estivesse invertida.
Em busca de detalhes de composição mais complexos, percebe-se que as áreas mais interessantes do rosto são bem divididas pela diagonal esquerda e suas perpendiculares. Infelizmente, os detalhes belos acabam na fotografia. A conexão das caixas de texto pelas perpendiculares da diagonal é apenas casual em alguns casos e caótica no resto.
Ainda que o logo se apoie perfeitamente sobre o quadrado inferior, demonstrando um belo detalhe no projeto da revista, e enquanto o quadrado superior alinha os ombros do Chico, há várias incoerências nas escolhas do design para essa capa.
O primeiro detalhe estranho é a chamada “exclusivo” à esquerda, numa fonte completamente diferente de todo o resto da capa. Pior, diferente da palavra “estilo”, numa cor também diferente de todas as outras palavras, que tem um papel análogo, logo abaixo. Para acentuar a desarmonia, as caixas da esquerda estão desalinhadas pelos marcadores da de baixo. E, numa solução redundante para agrupar os itens da seção, já agrupados pelos marcadores, usou-se uma caixa cinza. No topo, à direita, os nomes das atrizes do filme Black Swan surgem com sombra projetada rígida para manter a leitura de parte do texto sobre o cabelo grisalho: novamente, em desacordo com todo o resto.
A foto e meu fanatismo pelo Chico levaram-me a comprar a revista. Pena que um ensaio excelente, disponível no site da revista, não tenha ganhado um esmero maior no design da capa.
P.S.: Ah, a entrevista é boa! Não li o resto da revista.