Na faculdade, foi-me apresentado A história da Arte, de Ernest Gombrich. Alguns de meus colegas e eu adorávamos o livro. Fácil, mas bem pensado, bem escrito. Principalmente: não tinha a pompa empolada que se costuma associar injustamente à arte. Li muito dele, mas, confesso, nunca o terminei. Agora encerro a leitura do que considerei pessoalmente um irmão dessa obra: a História do design gráfico, de Philip B. Meggs.
Não sabia da existência do livro. Alguém, creio que do Omelete, talvez o Érico Assis, comentou no Twitter sobre o quanto ficou surpreso ao ver esse livro sendo publicado em português: fui atrás de informações.
Comprei-o com desconto e excelente atendimento do Tiago Pavan, pela Livraria 30porcento. Esperei-o com ansiedade e recebi-o bem embalado: belíssimo livro. A editora que talvez mais alegrias traga aos designers, não só pelas publicações, mas também pelo tratamento dedicado a elas, Cosac Naify trouxe-me enormes sorrisos durante essa leitura. Rigidez adequada ao tamanho do livro, beleza, acabamento revestido com tecido, linda diagramação em duas colunas com margens externas generosas dividida entre a, sempre exemplar, Elaine Ramos e Maria Carolina Sampaio, imagens coloridas são belas qualidades perto de poucos defeitos como alguns erros de revisão, tinta extremamente delicada na capa, imagens mencionadas mas não inseridas no livro por motivos diversos, assumidos e intransponíveis e a ausência de uma preocupação do próprio Gombrich atendida em seu livro: lá todas as imagens são exibidas junto ao texto que as menciona, o que não ocorre em História do design gráfico. Sim, eu sei que isso seria de uma dificuldade absurda e também sei que há muito mais imagens aqui do que em A história da arte, mas não há como não se incomodar com o vai-e-vem constante pelas páginas.
O conteúdo em si é maravilhoso, apesar de menos fluido do que o do Gombrich e um tanto apressado em alguns momentos. É apenas introdutório, claro, visto a sua enorme abrangência, mas a pesquisa é cuidadosa e bem organizada. Detalhes em que a história da arte apenas toca são analisados e desnudados. Os efeitos dos processos sobre a criatividade e a execução andam lado a lado com a análise de influências diversas sobre o resultado e o objetivo. É irônico ver o marketing, que na época nem esse nome tinha, quase enforcando o design no século XIX, como tanto vemos acontecer agora, quando cada um de nós deveria ser um pouco William Morris. O Estilo Tipográfico Internacional que hoje cresce e se estende sobre o web design é apresentado, assim como a ingenuidade da Nova Tipografia e a sede por descobertas do Pós-Modernismo. Detalhes novos, ao menos para mim, como a natureza planejada do alfabeto coreano e a influência da ilustração japonesa ukiyo-e desembocando na Art Noveau são algumas das descobertas mais interessantes. E o livro prossegue até o quase presente conhecido: David Carson, o logotipo da MTV e aspectos que minha ignorância escondia.
Precedidas por linhas-do-tempo, o livro é dividido em cinco seções com os seguintes capítulos:
- Prólogo ao design gráfico, a mensagem visual da Pré-História à Idade Média:
- A invenção da escrita;
- Alfabetos;
- A contribuição asiática;
- Manuscritos iluminados.
- Um Renascimento impresso, as origens da tipografia europeia:
- A impressão chega à Europa;
- O livro ilustrado alemão;
- O design gráfico do Renascimento;
- Uma época de genialidade tipográfica;
- A ponte para o século XX, a Revolução Industrial: o impacto da nova tecnologia na comunicação visual:
- O design gráfico e a Revolução Industrial;
- O movimento arts and crafts e seu legado;
- Art Noveau;
- A gênese do design do século XX.
- O período modernista, o design gráfico na primeira metade do século XX:
- A influência da arte moderna;
- Modernismo figurativo;
- Uma nova linguagem da forma;
- A Bauhaus e a Nova Tipografia;
- O movimento modernista nos Estados Unidos.
- A era da informação, o design gráfico na aldeia global:
- O Estilo Tipográfico Internacional;
- A Escola de Nova York;
- Identidade corporativa e sistemas visuais;
- Visões nacionais em um diálogo global;
- O design pós-moderno;
- A revolução digital e o futuro.
Introdutório como uma enciclopédia, ainda tem a vantagem de poder ser lido de ponta a ponta, coisa que talvez só alguns doidos como eu façam.
Deve ser hora de colocar Arte Moderna, de Giulio Carlo Argan, que dizem ser mais pesado, na minha lista.
Deve ser hora de alguma editora colocar Josef Müller-Brockmann, que está em momento absurdamente oportuno, em sua lista.