Chico Buarque na Revista Alfa--fevereiro de 2011

capa-chico-buarque

Nesse mês, duas capas me chamaram a atenção. Ambas por suas fotografias, visto que seu design não sobrevive a uma análise mais longa. Falemos da primeira.

Sou fã de Chico Buarque desde adolescente, apesar de meu gosto musical estar forrado essencialmente por rock e metal. Sinto orgulho de contar que fui a um show da turnê do álbum Carioca, em 2006, de bandana na cabeça e vestido numa camiseta da banda progressiva sueca Pain of Salvation. Sou fã, mesmo! Dias atrás, estacionei em frente a banca, saí do carro e, encarando meu caminho, estavam o Chico numa excelente fotografia e as palavras “disco novo”: comprei a revista, curioso!

capa-chico-buarque_tercos

Nunca havia lido uma Revista Alfa antes. Sabia de seu lançamento, mas não havia me interessado por conferí-la até essa edição. Mantendo-me do lado de fora da revista e do meu gosto musical, falemos da foto, da capa. A luz vinda pela direita revela a idade do retratado e confere-lhe um ar de dignidade, de respeito muito forte. A imagem se equilibra muito bem sobre seus terços. O nariz, enorme, marcado pela textura dos anos, repousa sobre o primeiro terço vertical, enquanto o pescoço gira no eixo do segundo. As sobrancelhas pesadas estão logo acima do terço horizontal superior. Para chamar mais atenção do que isso, apenas se estivesse invertida.

capa-chico-buarque_diagonal_esquerda

Em busca de detalhes de composição mais complexos, percebe-se que as áreas mais interessantes do rosto são bem divididas pela diagonal esquerda e suas perpendiculares. Infelizmente, os detalhes belos acabam na fotografia. A conexão das caixas de texto pelas perpendiculares da diagonal é apenas casual em alguns casos e caótica no resto.

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Ainda que o logo se apoie perfeitamente sobre o quadrado inferior, demonstrando um belo detalhe no projeto da revista, e enquanto o quadrado superior alinha os ombros do Chico, há várias incoerências nas escolhas do design para essa capa.

capa-chico-buarque_problemas

O primeiro detalhe estranho é a chamada “exclusivo” à esquerda, numa fonte completamente diferente de todo o resto da capa. Pior, diferente da palavra “estilo”, numa cor também diferente de todas as outras palavras, que tem um papel análogo, logo abaixo. Para acentuar a desarmonia, as caixas da esquerda estão desalinhadas pelos marcadores da de baixo. E, numa solução redundante para agrupar os itens da seção, já agrupados pelos marcadores, usou-se uma caixa cinza. No topo, à direita, os nomes das atrizes do filme Black Swan surgem com sombra projetada rígida para manter a leitura de parte do texto sobre o cabelo grisalho: novamente, em desacordo com todo o resto.

A foto e meu fanatismo pelo Chico levaram-me a comprar a revista. Pena que um ensaio excelente, disponível no site da revista, não tenha ganhado um esmero maior no design da capa.

P.S.: Ah, a entrevista é boa! Não li o resto da revista.

sobral

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